FGV, construção civil fica mais cara, puxada pela mão de obra
São Paulo - O Índice Nacional de Custo da Construção - Mercado (INCC-M), medido pelo Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getulio Vargas (FGV), atingiu 0,44%, em março, resultado maior do que o de fevereiro (0,39%). Desde o começo do ano, o índice acumula alta de 1,21% e, nos últimos 12 meses, de 7,45%. O INCC é um dos subcomponentes do Índice Geral de Preços-Mercado (IGP-M).
As taxas subiram em índices superiores aos do mês anterior em quatro das sete capitais onde a pesquisa é realizada: Salvador, com 0,62% ante 0,41%; Brasília, com 0,15% ante 0,04%; Belo Horizonte, com 0,54% ante 0,31%; e Porto Alegre, com 1,02% ante 0,24%. Nas demais, as correções ocorreram com variações menores: São Paulo, com 0,34% ante 0,46%; Rio de Janeiro, com 0,35% ante 0,42%; e Recife com 0,33% ante 0,92%.
A taxa do setor da mão de obra aumentou na média em mais do que o dobro (de 0,12% para 0,27%) e acumula em 12 meses alta de 9,36%. Esse crescimento foi influenciado, principalmente, pelos reajustes salariais concedidos em duas localidades, Salvador e Porto Alegre.
Na capital gaúcha, os profissionais receberam adicionais previstos no acordo coletivo da categoria, que elevaram os ganhos na média em 1,30%. Na capital baiana, as correções tiveram variação média de 0,56%.
No segmento materiais, equipamentos e serviços, o índice perdeu força, passando de 0,65% para 0,60%. Nos últimos 12 meses, a variação alcançou 5,72%. O que mais tem encarecido são as instalações elétricas, embora tenham apresentado percentual menor do que em fevereiro (de 2,56% para 1,30%). Desde o começo do ano, esses serviços acumulam um aumento de 5,89% e, nos últimos 12 meses, de 18,29%.
Fonte: Agência Brasil
http://agenciabrasil.ebc.com.br/
Aumenta presença de mulheres na construção
29/03/2011
A falta de mão de obra para atender o boom da construção civil dos últimos anos transformou os canteiros, abrindo espaço para mulheres num reduto tradicionalmente masculino.
Em quatro anos, o número de mulheres que literalmente passaram a colocar a mão na massa aumentou 74%, segundo levantamento do Ministério do Trabalho feito a pedido da Folha.
Em 2007, elas eram 109 mil. Em 2010, chegaram a 189,3 mil. Ainda representam um universo pequeno -7,67% do total de 2,4 milhões de trabalhadores do setor-, mas avançaram em territórios considerados tabus.
Se antes elas estavam apenas cozinhando ou ajudando na limpeza, agora atuam como pintoras, pedreiras, carpinteiras, operadoras de guindastes, caminhões e máquinas pesadas.
A presença feminina é destaque tanto na construção de condomínio residencial com 11 prédios nas redondezas de Brasília como em projetos de infraestrutura, casos das usinas de Jirau e Santo Antônio (RO) e Belo Monte (PA).
Essas três grandes obras ilustram bem a tendência que se espalhou pelo país. Em Santo Antônio, cerca de 10% dos 15 mil que trabalham na obra são mulheres, segundo a Odebrecht, que coordena o canteiro.
Capricho
Em Belo Monte, os trabalhos ainda não começaram, mas a seleção dos primeiros 150 trabalhadores que serão treinados inclui 25 mulheres. "Mulher trabalha com mais capricho, é mais responsável e o número de faltas é menor", afirma Marcos Sordi, diretor administrativo do consórcio Belo Monte.
Com larga experiência na construção civil, ramo em que atua desde 1975, Sordi diz que elas começaram com funções que exigem mais atenção a detalhes, como soldas e rejuntes, mas, agora, disputam vagas que não eram oferecidas a mulheres.
"Hoje, é comum ver mulheres operando tratores, guindastes e caminhões que transportam terra. E não é só aqui em Belo Monte. Em Jirau, de 20 mil operários, cerca de 4.000 são mulheres."
Alcione Rodrigues, 25, mora em Altamira e trabalhava como doméstica. Desempregada, inscreveu-se para curso de pedreira de Belo Monte porque o marido já trabalhava na área. Foi aceita.
"Criticaram, mas me inscrevi e levei o marido. Ganharei mais que os R$ 200 que tirava como empregada."
A piauiense Analina Pereira de Souza, 45, trabalha como pedreira há pouco mais de um ano. Viúva, com nove filhos e a mãe de 86 anos para sustentar, diz que tem "vocação" para trabalho pesado.
"Achavam que não tinha força, mas mostrei que sou capaz." Era montadora de móveis em Brasília e ficou desempregada. Não teve dúvida quando conseguiu vaga de pedreira num prédio.
Os salários de homens e mulheres nos canteiros de obra se equiparam porque variam de acordo com a função exercida.
Adaptação
"Mulher tem mais visão de qualidade, algumas valem mais do que muitos homens", diz o mestre de obras Cláudio Silva, 56, destacando que não abre mão de mulheres na equipe. Engenheiro civil, Humberto Navarro, 36, seguiu o conselho de Cláudio. "São mais dedicadas."
Paulo Safady Simão, presidente da CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção), defende a presença feminina nos canteiros.
Diz que as empresas precisaram se adaptar criando vestiários e banheiros e considera que esse é um caminho sem volta. Ele reconhece que algumas empresas ainda resistem. "Mas a lei de mercado vai prevalecer."
Um ponto que pesa contra as mulheres, segundo Sordi, de Belo Monte, são conquistas trabalhistas como licença-maternidade. Além disso, se ficam grávidas durante a obra, precisam trocar de função. Mas, para ele, os benefícios compensam.
Fonte: Folha de São Paulo (Sheila D'Amorim)
Alvos simultâneos
Folha de São Paulo, Janela, 27/mar
Duramente edificado, o dique de contenção da inflação tem apresentado fissuras que tomam a dimensão de rombos na percepção de alguns setores, sobretudo do mercado financeiro. O que acontece de fato com a inflação mistura-se com o imaginário dos agentes econômicos sobre o comportamento futuro dos preços.
Há expectativa em relação às novas medidas de contenção, além daquelas já implementadas como o aumento dos compulsórios, a elevação dos juros básicos e o corte de R$ 50 bilhões do Orçamento federal. Também é preciso cuidar para que essas medidas arrefeçam as expectativas dos agentes com relação à inflação futura.
A preocupação com a questão também aumentou entre os empresários da construção. A 46ª Sondagem Nacional do setor, realizada em fevereiro pelo SindusCon-SP com a FGV, mostrou claramente este fato. Na enquete, os empresários atribuem a cada quesito uma pontuação que vai de 0 a 100, na qual valores acima de 50 denotam desempenho ou perspectiva favorável.
O indicador de desempenho das empresas subiu 5,1% no trimestre, elevando-se a 58,8 pontos. As perspectivas desse desempenho aumentaram 3,4%, para 61,8 pontos. E a confiança na política econômica aumentou 2%, indo para 52,3 pontos. Já a expectativa de uma inflação reduzida diminuiu 21,3%, baixando a 37,3 pontos. A expectativa em relação ao crescimento econômico baixou 2,1%, embora ainda seja bastante otimista: 58,4 pontos.
A sondagem foi feita antes do corte do Orçamento, do terremoto no Japão e do ataque da coalizão dos EUA e de países europeus à Líbia.
Evidentemente o otimismo da indústria da construção tornou-se mais comedido nestes últimos 30 dias. Entretanto, dificilmente ele migrará para uma percepção pessimista: em 2011 boa parte do crescimento do setor está assegurado, por ter sido contratado em 2010.
A maior preocupação é que as medidas de contenção da inflação sejam adotadas apenas para conter a demanda, inibindo o que se faz igualmente tão necessário: o aumento incessante da oferta.
Não se pode perder a perspectiva de que adotar medidas de contenção do crédito é algo transitório em função do aquecimento da demanda, enquanto políticas de estímulo ao aumento da produção, da produtividade e da oferta de serviços precisam ser sempre agilizadas.
O Brasil deu ao mundo um exemplo de como é possível, com a inflação sob controle, crescer economicamente, retirar toda uma camada da população da miséria e elevar o nível de emprego e renda.
Esta nossa maior conquista precisa ser preservada, com a consciência de que ainda estamos longe do melhor dos mundos, neste país que continua sendo o campeão dos juros altos e da desigualdade social e apresenta outras preocupantes vulnerabilidades em seus fundamentos econômicos, como o déficit no balanço de pagamentos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário